A baiana Glelany Cavalcante, de Feira de Santana, saiu do Brasil em 2015 com 200 euros na conta bancária e um sonho: ser modelo na Europa. O valor, na cotação atual da moeda, é de cerca de R$ 1,2 mil. Passados 10 anos, ela é em 2024 uma das 44 concorrentes ao Miss Universo Itália, concurso que escolhe quem vai representar o país no Miss Universo, disputa que reúne modelos de todo o mundo.
As classificatórias para a final da disputa acontecem nesta sexta-feira (13). Em entrevista ao g1, Glelany contou como foi parar na Europa e porquê pôde participar do concurso mesmo sem ter nascido na Itália.
A modelo nasceu e cresceu em Feira de Santana, segunda maior cidade da Bahia. De família humilde e filha de pais divorciados, ela se mudou para Brasília aos 13 anos, para morar com o pai. Foi andando em um shopping da capital do Brasil, com 15 anos, que a baiana foi descoberta por uma agência de modelos.
Glelany nunca tinha sonhado em ser modelo. Na infância, sofreu bullying na escola e teve transtornos alimentares na pré-adolescência. A baiana nunca considerou a possibilidade de estrelar publicidades de moda e desfilar nas passarelas.
Mesmo assustada com o convite, ela decidiu tentar. A primeira sessão de fotos e o curso preparatório de modelo foram pagos com o dinheiro arrecadado em um churrasco da família.
O investimento deu certo e Glelany ficou em segundo do lugar no primeiro concurso que participou, o Miss Distrito Federal, em 2012, quando tinha apenas 18 anos.
No início da vida adulta, Glelany deixou um pouco o sonho de ser modelo de lado para se dedicar à faculdade de Direito. Ela estudava durante o dia e trabalhava como recepcionista em um hospital de Brasília, até que um outro passeio pela cidade mudou a vida dela – mais uma vez.
“Uma agência de Milão pediu para ver algumas modelos de agências de Brasília e fui acompanhando uma amiga. Chegando lá, gostaram de mim”, contou.
O problema é que a baiana não estava nas medidas exigidas para a Semana de Moda de Milão. Os agenciadores combinaram que, caso ela conseguisse emagrecer em dois meses, a levariam para a Itália.
No país europeu, a baiana conquistou trabalhos com grandes empresas de moda e beleza. Uma das conquistas foi ter desfilado com o vestido com maior número cristais bordado a mão, um total de 5 mil. A peça faz parte do Guiness Book e levou mais de 200 horas de trabalho para ficar pronto.
Devido ao trabalho, a baiana decidiu ficar no país, onde já vive há nove anos. Ela conquistou a cidadania, porque além de ter descendência por parte dos bisavós paternos, se apaixonou e casou com um italiano.
Há poucos anos, o Miss Italia tinha algumas exigências para selecionar as candidatas. Mulheres casadas e com mais de 28 anos, por exemplo, estavam fora dos pré-requisitos. Por causa disso, Glelany já tinha considerado como impossível participar do concurso, até que tudo mudou em 2024.
“Pra mim, o papel da miss não é só o concurso da beleza, a beleza é só uma vitrine. A partir dela, podemos comunicar muitas coisas importantes, ser exemplo para muitas mulheres e meninas”, afirmou.
Por causa da cidadania, a brasileira está apta a concorrer. Apesar de morar em Marche, ela representa do estado da Sicília, conhecido pelas belíssimas praias e gastronomia.
Segundo Glelany, infelizmente houve comentários negativos nas redes sociais. Por um lado, os italianos reclamaram que ela não era italiana; por outro, brasileiros disseram que ela havia “renegado as origens”.
“Uma das pautas que eu trago comigo é combater a ignorância. A imigração faz parte da história da humanidade, a pluralidade cultural é uma riqueza. Trago toda a essência baiana que tenho junto com a italiana que adquiri aqui”, contou.
Para a modelo, que é conhecida no meio como “from Bahia”, concorrer ao título de Miss Universo Itália é a consagração dos sonhos que ela buscava ao sair do Brasil.