O porteiro Edmar Santos Costa, de 38 anos, morreu ao sofrer uma parada cardiorrespiratória após se envolver em uma confusão no Terminal de Ônibus Acesso Norte, em Salvador. O caso aconteceu na manhã de 6 de janeiro, mas só veio à tona na sexta-feira (19), após a repercussão de um vídeo que registra o momento em que ele foi abordado por seguranças do sistema metroviário, onde há integração entre metrô e ônibus. Veja o que se sabe sobre o caso:
1. Qual a cronologia do ocorrido?
2. O que a CCR Metrô Bahia diz sobre o caso?
3. Qual o posicionamento da Secretaria Municipal de Saúde?
4. Qual a linha de investigação?
5. O que a família de Edmar diz sobre a situação?
6. O que falta esclarecer?
1. Qual a cronologia do ocorrido?
Polícia Civil investiga morte de homem após abordagem em estação de transporte na Bahia
Imagens das câmeras de segurança mostram o momento em que Edmar Santos Costa foi arrastado por dois agentes para a calçada, já na estação de ônibus vinculada ao sistema metroviário, na Rótula do Abacaxi.
Confira a sequência de fatos:
👉 Edmar cai em uma das entradas do terminal e é amparado por pessoas que estavam no local. Depois ele consegue se reerguer e sai caminhando;
👉 Um homem deixa um cooler na estação de ônibus;
👉 Edmar é filmado pegando o cooler, depois circulando pela estação;
👉 Ele entra em um ônibus e é agredido por outro homem; começa uma confusão no local;
👉 Atenuada a briga, o homem que deixou o cooler na estação recupera a caixa térmica.
A sequência é interrompida e novos fatos são registrados em um segundo vídeo:
👉 Detido por seguranças, Edmar é arremessado ao chão;
👉 Os agentes usam as pernas para prendê-lo no local — um segurança coloca o joelho nas costas do homem, e o outro apoia o membro no pescoço dele. O momento dura 13 segundos;
👉 O segundo segurança se levanta e parece discutir com cidadãos que presenciaram a ação, enquanto o colega mantém Edmar preso ao chão com a perna nas costas dele;
👉 As pessoas que se aproximaram dos seguranças dispersam e eles se voltam para o homem preso ao chão;
👉 É possível ver que Edmar já não se mexe mais;
👉 Mais um segurança chega com uma maca para colocarem Edmar;
👉 Os seguranças carregam a maca e saem da área de captação da câmera.
2. O que a CCR Metrô Bahia diz sobre o caso?
Em nota à imprensa, a CCR, administradora do metrô, lamentou a morte de Edmar Santos Costa e disse que instaurou procedimento interno para apurar os fatos.
A concessionária ressalta que, desde o ocorrido, colabora com as autoridades na investigação dos fatos, tendo cedido a íntegra das imagens de suas câmeras internas.
Segundo a empresa:
O passageiro ingressou no terminal cambaleando e chega a cair ao chão, sendo ajudado por outras pessoas que estavam no local;
Instantes depois, ele se envolveu em uma briga com um vendedor ambulante dentro de um ônibus, sendo também agredido por terceiros;
Ao constatar a confusão, os agentes de atendimento e segurança se dirigiram ao local e contiveram o passageiro, acionando, em seguida, a Polícia Militar e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Os agentes que participaram desta ocorrência foram afastados das funções operacionais até a conclusão das investigações, segundo a concessionária. Eles também já prestaram depoimento à polícia.
A empresa ainda afirma que investe em um programa contínuo de capacitação e treinamentos para os seus colaboradores, com o principal objetivo de prestar um serviço de qualidade à população.
Questionada se os agentes prestaram os primeiros socorros a Edmar, a CCR disse que os seguranças o conduziram para a sala de APS ao constatar o mal súbito — no local, acionaram o Samu. De acordo com a empresa, a sala em questão conta com todos os equipamentos de reanimação e equipe treinada.
3. Qual o posicionamento da Secretaria Municipal de Saúde?
O Samu confirmou que foi acionado para a ocorrência e que uma equipe de saúde fez manobras de reanimação, mas não conseguiu salvar o paciente, que teve a morte atestada pelo Samu ainda dentro da estação.
O corpo dele foi levado pelo Samu para o necrotério do Pronto Atendimento do 16º Centro de Saúde Maria Conceição Imbassahy, no Pau Miúdo.
Disse ainda que o órgão responsável para a remoção do corpo do paciente foi acionado para aguardar o IML.
4. Qual a linha de investigação?
A Polícia Civil informou que apurações iniciais indicam que duas porções de cocaína foram encontradas no bolso da roupa de Edmar.
Ele teria se envolvido em uma briga, que foi interceptada pelos seguranças do metrô.
5. O que diz a família de Edmar?
Segundo o advogado Pedro Fernandes, que representa a família, Edmar estava a caminho do trabalho quando a situação ocorreu. Houve a confusão, com abordagem considerada truculenta pelo advogado, seguida da constatação do óbito. Fernandes afirma que a causa da morte foi parada cardiorrespiratória, conforme registro do Samu.
A família busca assistência jurídica para obter reparação, já que acusa a CCR de não prestar qualquer satisfação sobre o ocorrido.
Uma irmã de Edmar, que preferiu não se identificar, questionou a abordagem realizada pelos seguranças da CCR Metrô Bahia.
A família do homem também questionou porque não foi comunicada sobre o que tinha acontecido na estação de transporte, já que ele estava com documentos e com o celular quando tudo aconteceu.
“Eu tenho certeza que tudo isso poderia ter sido evitado. A dor da revolta é justamente essa. O que a gente entende vendo as imagens é que foi algo desnecessário. Ele já estava ali contido, então por que aquele excesso?”, questionou a mulher.
Ligações teriam sido realizadas para o telefone de Edmar no momento em que ele foi abordado pelos seguranças da CCR Metrô Bahia.
A família informou que só soube do desaparecimento de Edmar quando o patrão dele ligou para familiares informando a ausência dele no trabalho na manhã do dia 6 de janeiro.
Depois disso, a família de Edmar começou a procurá-lo, mas só o encontrou morto, no Instituto Médico Legal (IML), por volta das 18h30.
Os familiares receberam no local apenas a informação de que ele teria morrido após passar mal em uma estação de metrô e sofrer uma parada cardiorrespiratória. Além disso, a família não foi informada para qual unidade de saúde o homem foi levado.
Somente na última semana os familiares tiveram acesso às imagens das câmeras de segurança na estação de ônibus e entraram em contato com advogados para responsabilizar quem eles acreditam que sejam os responsáveis pela morte de Edmar.
Os familiares agora querem ter acesso às câmeras de seguranças dos fardamentos dos seguranças do metrô.
6. O que falta esclarecer?
A família de Edmar acredita que a abordagem realizada pelos seguranças da CCR Metrô Bahia pode ter provocado a parada cardiorrespiratória que ele sofreu.
No entanto, a causa da morte ainda não foi definida pelo Departamento de Polícia Técnica, que tem um prazo de 30 dias, a partir da data do ocorrido, para emitir o documento.
A polícia disse que testemunhas estão sendo ouvidas, imagens de câmeras de segurança são analisadas e outras diligências investigativas estão sendo feitas para esclarecer o caso. Laudos periciais também vão complementar as investigações.